Este livro é uma leitura maravilhosa, abaixo alguns alertas para que a nossa metamorfose aconteça de fato, quando o assunto é a nossa reforma íntima..
Wanderley Oliveira pelo espírito Ermance Dufaux
Capítulo 4 /O que procede do coração
A comunidade espírita, que tantas benfeitorias tem prestado ao mundo, carece de uma reavaliação global em sua estrutura no que tange à noção de comprometimento. Convém que os líderes mais sensibilizados instiguem a formação da cultura da franqueza com fraternidade e clareza, no intuito de estabelecer uma oxigenação na sementeira para obtenção de mais qualidade nos frutos.
Muitos companheiros, os quais merecem nossa compreensão, costumam disseminar a concepção de que tudo deve correr conforme os acontecimentos, e justificam-se com a frase: “se fazendo assim está dando certo, porque mudar?” Em verdade, o que deveríamos pensar é: se fazendo assim estamos colhendo algo, então quanto não colheríamos se fizéssemos melhor, se nos abríssemos às renovações que a hora reclama?!!!
Há uma acomodação lamentável que precisa ser aferida. A noção espírita de comprometimento foi acintosamente assaltada pelas velhas tendências de conseguir o máximo fazendo o mínimo. É a devoção exterior, a influência marcante da personalidade impregnada de religiosismo estéril querendo tomar conta da cabeça e do coração daqueles que estão sendo chamados a novos e mais altaneiros compromissos, na espiritualização de si mesmos e da comunidade onde florescem.
Frágil padrão de avaliação da conduta espírita tem tomado conta dos costumes entre os idealistas. Enraizou-se o axioma “espírita faz isto e não faz aquilo” que tenta enquadrar o valor das ações em estereótipos de insustentável bom senso. Estereótipos, como seria óbvio, que sofrem as fantasias do “homem velho” habituado a sempre rechear com facilidades os seus caminhos em direção ao Pai, a fim de não ter que se enfrentar e assumir a árdua batalha contra suas ilusões enfermiças.
É assim que vamos notando uma supervalorização em coisas, como a não adoção de alimentação carnívora, a impropriedade de frequentar certos ambientes sociais, a fuga da ação política, a análise da vida dissociada das ciências e conquistas humanas, a interminável procura do passe como instrumento de melhoria espiritual ao longo de anos a fio, não chorar em velórios, distanciamento da riqueza como se fosse um mal em si mesma, cenho carregado como sinônimo de responsabilidade, silêncio tumular nos ambientes espíritas. Se fumar, não é espírita; se separar matrimonialmente tem a reencarnação fracassada; Se ingerir alcoólicos, não pode ser considerado alguém em reforma; se for homossexual, não pode entrar no centro, e assim prosseguem as idiossincrasias que são estipuladas umas aqui, outras acolá.
Absolutamente não devemos desprezar o valor de todas essas questões, quando bem orientadas para o bom senso e a lógica. Entretanto, nenhuma dessas posturas é referência segura sobre a qualidade de nossos sentimentos, o que parte do coração. O que sai do coração e passa pela boca é o critério de validação de nossa realidade espiritual. Por ele se conhece a verdadeira pureza, a pureza interior que é determinada pela forma como sentimos a vida que nos rodeia. E sobre esse assunto temos condições de avaliar o que se passa no nosso íntimo, jamais o que “vai” no coração do outro.
A pureza exterior pode ser um ensaio, um primeiro passa para o ingresso definitivo da Verdade em nosso coração. Todavia, amigos de ideal, pensemos se não estamos passando tempo demais na confortável zona do desculpismo, desejosos de facilitar para a consciência nossa noção sobre o que é “ser espírita”.
“...a qualquer que muito foi dado, muito se lhe pedirá...”
Em conclusão, convenhamos que há muitos companheiros queridos do nosso ideário satisfeitos com o fato de apenas evitarem o mal, entretanto, estejamos alertas para a única referência ética que servirá a cada um de nós no reino da alma liberta da vida física: fazer todo bem que pudermos no alcance de nossas forças. Para isso, somente trabalhando por uma intensa metamorfose nos reinos do coração de onde procedem todos os males. (pp.30, 31)